Egresso da Escola de Música da UFBA, Caio de Azevedo é o primeiro compositor brasileiro a vencer o Concours de Genève.

Caio de Azevedo. Foto: Anne Laure Lechat

 

Primeiro lugar foi dividido entre o brasileiro e o suíço Léo Albisetti

 

 

Os tons de dourado e vermelho do Victoria Hall, em Genebra — uma das mais importantes salas de concerto do mundo — emolduraram a apresentação dos finalistas da categoria Composição do 78º Concours de Genève (em tradução livre, Concurso de Genebra), renomada competição internacional de música.

Ao final da premiação, três jovens compositores sorriam no palco: Sang-min Ryu (24), sul-coreano que garantiu o terceiro lugar com a sua obra “The Past Recaptured”; e, dividindo o primeiro lugar de forma igualitária, o suíço Léo Albisetti (26) com seu trabalho “Nouvel Élan” e o brasileiro Caio de Azevedo (30), com a sua bagatella concertante “Marionnette”.

Egresso da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (EMUS / UFBA), Caio é não apenas o primeiro classificado entre os 82 compositores - oriundos de 28 países -  inscritos na competição, mas, principalmente, o primeiro compositor brasileiro a vencer o Concours de Genève.

 

“Foi uma felicidade muito grande”, conta, seu sorriso transparecendo na voz “Não sei nem se a ficha já caiu”, brinca.

 

Da Direita para esquerda: Leo Albisetti, Sang-Min Ryu e Caio de Azeved. Foto: Anne-Laure Lechat.

Vencedores do 78º Concours de Genève. Da direita para a esquerda: Leo Albisetti, Sang-Min Ryu e Caio de Azevedo. Foto: Anne Laure Lechat

 

A trajetória de Caio na música começa aos 13 anos, como aluno do Curso Livre de Piano da EMUS. Dos 15 aos 17, ele passa a estudar violoncelo nos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA), e é o domínio do novo instrumento que dá o empurrãozinho que faltava para que ele comece a compor. Retornando à Escola de Música da UFBA aos 17 anos, ele continua os estudos do violoncelo, agora no bacharelado, orientado pela profª. Dra. Suzana Kato.

 

“Caio é brilhante”, comenta a professora Kato. “Tanto que concluiu o bacharelado em três anos, feito que poucos alunos alcançam”.

O encanto pela composição, no entanto, faz com que Caio explore outras disciplinas além da grade regular de violoncelo: “Mesmo não sendo do Curso de Composição, passei a graduação toda assistindo às aulas do Prof. Paulo Costa Lima” ele conta, rindo, definindo o seu comportamento do que chama de “aluno não-oficial”. “Aquele período me mudou tanto como pessoa, quanto como compositor, e foi extremamente importante para a minha formação.”

Após a graduação, Caio conclui também o Mestrado Profissional em Música na mesma Escola de Música da UFBA, continuando a conciliar os interesses entre o violoncelo e a Composição. Em sequência, muda-se para Munique, na Alemanha, para estudar com o compositor Moritz Eggert — uma mudança que deu tão certo que ele continua morando na cidade, trabalhando como compositor e músico.

 

Quando questionados sobre como se sentem com a vitória de Caio, uma palavra é unanimidade entre os seus professores na EMUS: orgulho. “[Caio] está mostrando ao mundo o que ele é capaz de fazer, e mostra isso como um brasileiro, como um baiano” comenta o Prof. Paulo Costa Lima, mencionado nominalmente no vídeo de apresentação de Caio durante a premiação.

O professor faz também uma menção a uma entrevista de Caio ao jornal O Globo. Na publicação, o jovem diz que “A música de concerto contemporânea no Brasil é de uma pluralidade e riqueza tremendas. Por exemplo, é gigantesco o legado que o famoso Grupo de Compositores da Bahia deixou para toda uma geração de artistas que dialogavam com tudo que se ouvia no país. Esse eco dos dialetos, das cores e atitudes na música brasileira em geral me fez ter mais coragem para tentar. A música que tento escrever é uma música de várias estéticas e lugares, em que essas diferenças ora se debatem, ora se abraçam”

 

Caio de Azevedo (no topo, ao centro), em performance com a Orquestra Sinfônica da UFBA durante sua passagem pela EMUS.

Foto: Arquivo

 

E o resultado dessa inspiração em misturas foi justamente o que Caio de Azevedo levou ao Concours de Genève: “Marionette” é uma obra pouco convencional, que usa instrumentos não tradicionais, como panelas, garrafas, gongo mergulhado na água, apitos e rodinhas de metal.

Descrita pelo autor como uma bagatella concertante — termo italiano para definir uma obra curta, leve e despretensiosa — “Marionette” atende à exigência do concurso de ser uma obra para solo de viola e orquestra de câmara, bem como atende à vontade de Caio de ser uma experimentação com o formato tradicional de concertos.

Construída como uma alusão a um teatro de marionete, esta é uma peça em que se ouve o pequeno palco, as pequenas cortinas e os bonecos, as linhas e a mão por trás do boneco, os músicos tocando por trás daquele palco.

 

“Todo esse ambiente meio fantástico e ilusório, eu tentei mostrar na peça, sobretudo na instrumentação”, conta o compositor.

Inspirada também na história de Pinóquio, do italiano Carlo Collodi, “Marionette” passa ainda por temas como liberdade, controle e ilusão. “A viola solo estava extremamente conectada com os músicos da orquestra. Ela era quase um personagem principal, ou achava que era, embora quase todas as notas e todos os gestos que o solista tocava estavam atrelados à orquestra.” afirma Caio. “Queria criar uma peça escrita para orquestra de câmara e viola, mas que soasse mais como uma outra coisa e que tivesse esse fio narrativo teatral”.

Sobre o processo de composição, Caio conta que levou cerca de seis meses, em jornadas diárias que totalizavam até 16h. “Foi um período bem intenso. Dediquei bastante tempo e cancelei diversos compromissos, porque a peça era muito detalhada e eu precisava de muito tempo para compor”, relata.

 

Vencedores e Júri do Concours de Genève. Da Esquerda: Hector Parrà, Francesca Verunelli, Sang-Min Ryu, Milica Djordjević, Caio de Azevedo, Francesco Filidei, Léo Albisetti e Pascal Dusapin. 

Foto: Anne Laure Lechat

 

O esforço foi recompensado com o reconhecimento do Júri, formado por grandes nomes da música: Milica Djordjevic, Francesca Verunelli, Francesco Filidei, Pascal Dusapin e Héctor Parra — “os dois últimos,” Caio destaca, “são nomes que a gente estudava na EMUS”.

 

Para o diretor da Escola de Música da UFBA, José Maurício Brandão, é imensa a alegria de ter mais um aluno premiado. “Neste caso particular,” declara o diretor, “é importantíssimo salientar a universidade como o ambiente para provocar, despertar e incentivar a pluralidade de processos criativos. Caio inicia ao piano, descobre o violoncelo, tem a oportunidade de explorar a composição e ganha o mundo. O que poderia ser mais "universal", mais Universidade? Parabéns Caio e Longa Vida a UFBA!”

A etapa final e a premiação do 78º Concours de Genève - Composition pode ser conferida no acervo da Medici.tv, renomada emissora especializada em música clássica. Já o programa completo e mais informações sobre o 78º Concours de Genève estão disponíveis no site da competição.

 

 

 

 

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